Noah (Parte 2)


O último Post antes deste falava sobre saudade, mas este fala sobre a morte dela. Sei que não foi uma morte definitiva e que logo ela irá ressuscitar, mas por hora ela está morta. Eu mesmo a matei.

Estou em Santa Catarina, na casa do Noah.

Foram poucas horas de viagem até aqui, mas mesmo que fosse por uma enorme distância, eu iria só para vê-lo novamente.

Dentro de mim, havia muitos questionamentos. Eu não sabia se ele se lembraria de mim. Como reagiria ao me ver novamente? Ele é apenas uma criança. Eu sei que quando eu era criança, tinha lembranças de quem eram meus tios, especialmente aqueles a quem via com muita frequência (que é o caso dele comigo, uma vez que já moramos na mesma casa), mas apesar de lembrar de fatos ocorridos quando eu tinha meus 3 anos, eu não sei como é a mente de uma criança de 3 anos com deficiência auditiva.

Eu estava me preparando para uma possível decepção. Ele poderia me rejeitar por não se lembrar de mim, ou ter qualquer outra reação inesperada.

Quando cheguei ao prédio e subi pelo elevador, por um momento acabei me desligando do fato de que o encontraria ali, naquele momento. Não lembro quem abriu a porta, mas logo o colocaram na minha frente.

Aquele menininho tão grande, se comparado com aquele que havia ido embora, estava parado com carinha de timidez diante de mim. Ele sorriu, olhou para a mãe dele e apontou pra mim, como quem diz: "Mamãe! Olha quem está aqui!". A mãe do Noah, olhou pra ele e disse: "É o Dindi*, filho! Vai dar um abraço nele!". Ele veio e me abraçou, enquanto eu o enchia de beijos e abraços, cheirava seu cabelo, dizia o quanto ele estava grande e gordinho. Eu o apertava com toda a força, como se não quisesse que alguém o tirasse de mim. 

A foto não ficou muito focada, mas foi ele quem colocou meu fone, meus óculos e o boné
Isso durou até o momento em que ele viu o pacote de Fandangos que estava na minha mão. Ele começou a fazer sinais para a mãe. Sinais oficiais que tem aprendido na escolinha, e que eu ainda não sabia, mas que já estou aprendendo, para que ele me entenda e para me fazer entendido por ele. Aqueles sinais significavam que ele queria o pacote. Eu dei o biscoito pra ele e, enquanto ele comia e sujava a casa com aquelas rodelinhas amarelas, me pegou pela mão e me levou pra brincar. Ele não desgrudava! Brinquei com ele até cansar e, mesmo cansado, continuei brincando.

Suas brincadeiras não são mais de bebê. Ele gosta de brincar de perseguir o bandido, é fã do Homem de Ferro, do Hulk e especialmente do Homem Aranha. Ah! Ele adora os Vingadores, e está lá na sala assistindo agora, com o pai dele, enquanto eu escrevo este texto. Foi ele quem escolheu o DVD. Outra coisa que eu acho linda nele é quando ele fica assistindo tutoriais de desenhos dos heróis que ele gosta, no Youtube. Ele mesmo pega o celular dos pais e escolhe o vídeo que ele quer ver.

Quando pensei já ter brincado o bastante, fui para o quarto e fechei a porta, na intenção de dormir. Quando ele percebeu minha ausência, foi até o meu quarto e bateu na porta, mas quando percebeu que estava trancada, começou a chorar muito! Era um choro sentido, sabe? Aquilo doeu tanto em mim. Ele não queria que eu o deixasse de novo. Eu corri pra onde ele estava e o abracei, segurei-o no meu colo, igual fazia quando ele era um bebê, sequei suas lágrimas e, mesmo que ele não pudesse ouvir, falei que estava ali, que não iria embora.

Ai, ai... Como ele cresceu! Cada momento com ele é uma surpresa. Não tem como não amá-lo! E foi muito louco ver a reação dele após todo esse tempo. Saber que ele se lembra de mim e que me ama do jeito dele.

Só fico pensando em como vai ser pra mim na hora de ir embora. Espero que esse dia demore muito a chegar.

Até o próximo Post.

*Dindi: Termo usado para me definir como padrinho dele. O correto seria Dindo, mas a gente acabou adaptando e ficou assim.