Tudo começou aos quatro anos de idade, quando eu estava na igreja com meus pais e algo me chamou a atenção: uma pessoa roendo as unhas.
Achei curioso o fato de um adulto estar com o dedo na boca. Nem eu que era criança fazia mais aquilo! O que ele estaria fazendo? Coloquei meu indicador na boca para ver se faria sentido, e nada. Continuei observando aquela pessoa e vi que ela arrancava as unhas com os dentes e as lançava fora com uma cuspida discreta. Fiz o mesmo uma vez, e outra, e mais uma, e mais uma. Desde então, não uso cortador nas unhas (das mãos, é claro!), pois elas estão sempre bem curtinhas (e minha boca cheia de germes e bactérias).
Nem eu, muito menos aquela pessoa (que eu sequer conhecia) imaginávamos que esse mau hábito me seguiria até os vinte e cinco anos de idade.
Aos catorze anos, fui proibido pelo médico de assistir televisão por longos períodos de tempo (mas isso não tem nada a ver com o hábito de roer unhas, ok?). Como a proibição veio durante as férias de Janeiro e eu era MUITO viciado em televisão, meus dias se tornaram um tédio e minha fuga foi pegar revistas (as "Capricho" da minha sobrinha eram as melhores de todas!) e recortar as figuras com as quais eu mais me identificava. Era quase um "Poema Dadaísta", porém com imagens ao invés de palavras.
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(Pode pular essa parte, se quiser)
Para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
(Tristan Tzara)
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Enquanto recortava eu relaxava minha mente e viajava imaginando as histórias que poderiam existir por trás de cada imagem. Vários enredos se formavam com possíveis desfechos enquanto ia cortando e imaginando o contexto dos desenhos e fotografias das revistas. A princípio, as figuras recortadas ficavam soltas, até que tive a ideia de fazer capas para meus cadernos. Ficavam parecidos comigo (ou seja, lindos! kk), e meus amigos (na verdade, minhas amigAs) gostavam tanto que me pediam para fazer para ele(a)s. Já tive váááários desses cadernos, desde então.
Minha escrivaninha com minha bagunça |
Destaque para o Fichário que customizei com meus recortes de revista |
No último sábado eu não consegui dormir. Teria uma reunião de trabalho logo pela manhã (Sim. Em pleno sábado... [mas fui eu que marquei]) e fiquei tão envolvido nos preparativos que decidi virar a noite. Após a reunião, cheguei em casa, almocei e adormeci pesadamente. Quando acordei, por volta das 19h, minha sobrinha de nove anos me viu saindo do quarto e correu para pegar o caderno dela. Ela queria me mostrar o que havia feito: "Tio Douglas, eu fiz a capa do meu caderno igual à do seu! Peguei as figuras, cortei e colei."
O meu lado tio ficou radiante com aquilo! Tinha ficado muito bonito mesmo. Não falei só pra agradar. Aliás, quem me conhece sabe que eu não costumo dizer nada só pra agradar (risos). Foi algo muito inesperado mesmo! Em momento algum eu havia percebido que ela, mesmo sendo tão pequena, me observava criando as capas dos meus cadernos e pensava em fazer um para ela. Ao mesmo tempo que aquilo me deixou emocionado, me levou a refletir.
É interessante descobrir o quanto você pode influenciar alguém pelo exemplo, até mesmo sem perceber. O fato é que nós sempre corremos o risco de estar sendo observados. Mas, não digo isso no sentido de ficarmos neuróticos, como se em um grande julgamento nossa vida toda pudesse ser exibida em um telão diante de toda a humanidade (como eu acreditava, quando era mais novo). Me refiro ao fato de que (quer você queira, quer não) você é uma influência para alguém. E isso pode ser bom ou ruim. Só depende de você.
Você pode estar influenciando alguém a fazer uma capa de caderno com colagens ou a roer as unhas pelo resto da vida. Pode estar influenciando alguém a prosseguir ou a abandonar seus sonhos. A ter esperança ou a desistir de viver. E como isso pesa! Um peso de responsabilidade pelo simples fato de estar sendo você mesmo. Complicado, né?! Também acho.
Agora há pouco, pedi a minha sobrinha de 10 anos para escrever uma mensagem na minha agenda (Sim. Estou resgatando o hábito dos anos 90) e olha só o que ela escreveu:
"Tio Douglas, (...) você é um tio que serve de exemplo para muitos de seus sobrinhos, inclusive para mim. Você (...) me ensinou muitas coisas. Por exemplo: a gostar de Harry Potter, me ensinou um pouco de inglês e muitas outras coisas. Eu agradeço a Deus por sua vida e pelo tio que você é! Te amo!"
E assinou com o apelido que eu uso para chamá-la (cada sobrinha tem o seu).
Diante de tudo isso que conversamos, só posso chegar a uma conclusão: É chato ter que pensar sempre no outro? Sim. É uma sensação de abnegação contínua. Mas... Vale a pena abrir mão do nosso próprio ego de vez em quando, contar até dez, respirar fundo e pensar no que nossa atitude de hoje estará reproduzindo na vida de quem nos observa.
"NÃO DESISTA!
Alguém está se inspirando em você."
Foi a frase simples que li por acaso, mas que me encheu de força pra enfrentar as duas últimas semanas.
Já dizia nosso amigo Confúcio: "A palavra convence, o exemplo arrasta". E como é bom começar a colher os (bons) frutos que o exemplo, a influência nos proporcionam! É a sensação de missão cumprida. Afinal, com que finalidade passamos por essa vida, se não marcarmos a vida das pessoas que nos cercam com coisas boas? E isso vale para todos os âmbitos da vida.
Bom, é isso.
Douglas ;)
Qual o meu apelido??
ResponderExcluirCamila em 50 tons de voz??
Haha te amo ❤️
Tio Irmão Amigo... Meu orgulho, meu exemplo, minha inspiração!!!