Sobre Escritores, Bloqueios e Ganha-pães...


Faz pouco mais de uma semana que estou "morando" em Concórdia - SC. Confesso que, vim para cá aberto ao que pudesse acontecer. Inclusive para a possibilidade de não dar certo e eu precisar/querer voltar para o Rio.

Conforme os dias foram passando, eu passei por aquele primeiro momento de adaptação, conhecendo a cidade, saindo com a Camila e com o Wallace, donos da casa onde estou hospedado, procurando emprego, e não conseguindo escrever uma linha sequer do livro. É... Pra quem (ainda) não sabe, eu trabalho numa história há mais de dez anos. Inclusive, famosa entre aqueles que sabem que estou escrevendo, mas nunca termino.

Dessa vez, eu me dei um desconto. Até comecei a querer me cobrar: "Você não está trabalhando no livro!", mas me dei conta de que era necessário passar pela adaptação inicial.

Foi pelo fato de não me punir psicologicamente por não estar trabalhando na história, que eu consegui escrever alguma coisa referente a ela (mais do que eu imaginava). Na verdade, rascunhar num bloco de notas. Algumas boas páginas desenvolvidas, prontas para serem melhoradas. Mas, isso nem se compara com o tanto que já foi descartado. O bom é que, com o tempo e a experiência, a gente aprende que o "descarte" de material é excelente para o escritor. Isso mostra que temos senso crítico de que não está bom o bastante para o nível de nossa história. Além de provar pra nós mesmos que sabemos onde queremos chegar, nos dá autonomia para entender que se aquela parte (por maior que seja) foge do nosso foco, sabemos tirá-la de jogo e escrever algo melhor.

Dá pra ler um pouquinho do andamento da história no Bloco. A folha em branco é um tipo de Roteiro, pra direcionar os fatos

Ultimamente, o que estava me atrapalhando bastante a escrever era a preocupação com minha estadia aqui. Com o tempo, o dinheiro vai saindo da conta, sem entrar nada (já que não havia recebido nenhum retorno sobre os curriculuns distribuídos) e ainda não resolvi nada sobre aluguel de casa ou compra de móveis e eletrodomésticos. Isso vai causando uma neura, sabe? Por mais que você saiba e sinta que não está sendo um peso para as pessoas onde está, mas é o senso de responsabilidade falando mais alto.

Meu plano inicial era, sim, ficar desempregado por seis meses para me dedicar exclusivamente ao livro, mas, isso morando na casa dos meus pais, tendo dinheiro guardado para esse período, sem grandes despesas. Não contava que me mudaria de Estado, tendo que encarar uma nova realidade nada "estável" (se é que me entendem).

Mas, creio que parte do "problema" já foi resolvido. Pois, desde semana passada, eu tenho ido à Secretaria de Educação daqui, e fiquei por dentro da Chamada Pública para professores da Rede Estadual de Ensino. Eram vagas remanescentes de professores que prestaram concurso e não compareceram para tomar posse das vagas. Sendo assim, eles chamam quem tiver formação ou esteja cursando a faculdade que habilita para cada disciplina, dando prioridade para os já formados.

Dentre todas as vagas, havia Ensino Religioso. Pouca gente sabe, mas eu sou formado em Teologia. Comumente, quem assume essas vagas são professores de História, Filosofia, Sociologia, que acabam "tapando o buraco" devido à escassez de gente formada nessa área específica, e, lá havia muitos interessados nas vagas. Mas, como a prioridade é para quem tem habilitação na área, a moça perguntou e eu fui o único a me apresentar.

Eu poderia ter pego cerca de 15 tempos em três escolas diferentes, mas eram longe e como eu (ainda) não dirijo. O que fez com que a moça me recomendasse não arriscar a me desgastar com transporte público toda semana para dar aula nessas escolas mais distantes. Assim, peguei 5 tempos numa única escola atrás da casa da Camila (onde estou hospedado). Chegando lá, a moça perguntou se eu tenho interesse em outras disciplinas, como Sociologia e Filosofia. E eu só respondi: "Claro! Podem contar comigo para o que precisar. Eu quero trabalhar.".

Então, é isso. Começo na segunda-feira, uma semana inteira de Seminário para os Professores, com 40 horas de duração, para iniciar o ano letivo. Eu sei que vou conseguir conciliar isso com o Projeto do livro. Eu sinto. Meu compromisso comigo mesmo é não abrir mão do meu objetivo principal por causa de qualquer emprego. Eu vou trabalhar para que o dinheiro não me falte, gerando recursos para a realização do meu projeto principal.

Se algum dia, vocês virem que eu estou perdendo o foco por causa de trabalho, por favor, me avisem, pois eu tenho coragem de largar tudo de novo, até acertar de vez e, finalmente, ver esse livro impresso.

Obrigado por lerem até aqui.
Um abraço!
Me desejem sorte.
Douglas =)

P.S.: Esse vídeo da JoutJout me motivou bastante, porque fala exatamente tudo o que eu acredito e tenho me inspirado a viver!