Minha amiga, realidade


Durante toda a minha vida, fui alguém que acreditou na sorte. Sempre pensei que algo bom poderia acontecer comigo, como algum tipo de predestinação. Como alguém nascido e criado no contexto religioso, aprendi que sou escolhido por Deus para grandes coisas, que as nações do mundo conheceriam meu nome, em suma, cresci acreditando que uma vida excepcional e extraordinária estava reservada para mim. Sendo assim, vivia no nível intermediário entre o sonho e a realização.

Como eu sonhei! Fui uma criança criada nos padrões mais altos de Walt Disney. Imaginação aflorada, totalmente capaz de sonhar acordado, especialmente durante as aulas de Ciências e Matemática. Minha imaginação era meu maior refúgio.

O tempo foi passando, a infância indo embora junto a ele e eu passei a ser visitado (a cada dia com maior frequência) por alguém chamado realidade.

É claro que ela apareceu durante minha infância. Mas, infelizmente, não era vista por mim como uma amiga. Eu a considerava dispensável, desnecessária.

Realidade, para mim, eram meus irmãos implicando comigo, os meninos da escola caçoando do meu peso, de minha aparência. Realidade era a fome do mundo, as mortes dos noticiários. Eu detestava a realidade, não queria precisar viver nela.

Mas, ela chegou com tudo, derrubando os muros de fantasia atrás dos quais eu me escondia. Ela se impôs, me fazendo perceber que eu deveria aceitá-la, querendo ou não querendo.

Aos poucos, ela foi matando meus sonhos, me fazendo perder a capacidade tão natural de imaginar a ponto de me perder em histórias e mundos aos quais sempre visitei. Era como se a porta para o "País das maravilhas" houvesse encolhido e eu já não pudesse atravessá-la, por ter crescido demais.


Mas, o tempo disse: "Deixe-me passar". E eu deixei.

A todo tempo acreditei que, assim como eu estava mudando, um dia minha realidade também pudesse mudar. Uma vez que estava disposto a me adaptar a ela, ela também poderia se adaptar a mim.

Descobri que não preciso viver a realidade dos outros, mas posso construir a minha própria realidade. Percebi que a felicidade não consiste em se perder e refugiar num mundo de fantasia, mas em viver a verdade de quem se é, não aceitar o que a vida te impõe, mas em construir a vida que se quer ter.

EU escolho quem quero ser. EU decido minha realidade de amanhã, de daqui a cinco, dez, cinquenta anos... Mas, só viverei a realidade que espero no futuro se, hoje, fizer algo para chegar até lá.

Hoje vivo minha realidade: um mundo intermediário entre o que é fantástico e o que é real. Sei que ainda não cheguei onde desejo, mas, a cada dia, faço um pouquinho pelo meu eu do futuro. Estou caminhando um passo de cada vez, escrevendo uma página por dia, conquistando pequenos objetivos diários.

Assim (só assim), sei que vou construindo meus sonhos, povoando meus mundos e, acima de tudo, vivendo a realidade de ser eu.



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