A humanidade de ouvir

Se tem uma coisa que eu não sou, é objetivo. Esse, definitivamente, é um adjetivo que não me cabe. Salvo em situações muito específicas que envolvam demissão. Aí eu consigo ir direto ao ponto, sem dar voltas e voltas em diversos assuntos.

Mas, hoje, eu acho que vou precisar ser um pouco mais objetivo, afinal, já passa da meia-noite.

O dia, hoje, tinha tudo para não ser nada produtivo.

Acordei, tomei meu banho, arrumei minha cama e logo fui fazer o almoço (por volta das 9h30). Apesar da grande variedade de coisas que fiz para o almoço, tudo ficou pronto às 11h45m. Almoçamos cedo e isso me dá uma sensação de que o dia (a tarde) rende um pouco mais.

Após o almoço, peguei umas contas para pagar (pela conta do meu pai, porque eu não tenho um tostão furado para pagar sequer as minhas próprias contas) e, diante do computador, fui inventar de responder à minha amiga Carol, que perdeu a irmã recentemente (há cerca de um mês).

Foi ótimo poder servir como um amigo leal, um bom ouvinte (ou leitor, dependendo do ponto de vista), e estar ao lado de uma amiga que precisava de mim. O problema é que falar sobre luto, sobre perda de alguém amado, mexeu um pouco comigo, e eu acabei perdendo o ânimo para fazer qualquer outra coisa a seguir. Foi como se eu precisasse recuperar minhas forças após a conversa.

Mas, aprendi que amizade verdadeira é assim: A gente guarda nossa tristeza no bolso para cuidar da tristeza de quem amamos. Vem sendo assim desde que a Carol perdeu sua irmã. Eu já estava passando por todo o processo de internação e correria com a minha mãe, mas, não quis que ela soubesse. Chegando do hospital, após uma vivência numa Escola no Cosme Velho (RJ) para a qual eu nem fui selecionado, fui visitar minha amiga, pois sabia que ela precisava entender que poderia contar comigo.

Mais uma vez, me dei algum tempo. Fui para a sala, assisti TV e fiquei navegando pelas Redes Sociais. Quero dar um tempo (preciso). Tenho perdido muito tempo distraído nas Redes Sociais, com absolutamente nada relevante. Assisti ao Jornal Hoje, com meu pai, à novela "Chocolate com Pimenta", que está na reta final, o filme que passou na Sessão da Tarde foi "Como se fosse a primeira vez", e emendei em "Mulheres Apaixonadas".

Quando começou a novela das 18h, eu me levantei e propus ao meu pai jantarmos mais cedo. Ele concordou, então eu já comecei a mobilizar as coisas para o jantar.

No momento em que eu ia colocar o filé de peixe na panela, alguém chamou. Era a vizinha que perdeu a mãe recentemente (falei dela nesse texto aqui). Ela e o filho vieram procurando por minha irmã, mas ela não estava aqui.

Os convidei a entrar e ela disse que não demoraria, mas eu não estava com pressa. Chamei meu pai e ficamos ali, à mesa, ouvindo tudo o que ela tinha para contar sobre o momento de perda. Pudemos também falar um pouco sobre nossa experiência e me coloquei na condição de ouvinte empático, escutando atentamente, demonstrando interesse e fazendo perguntas para reforçar o assunto, ou abrir parêntesis para novos assuntos.

Eu senti que ela precisava conversar, colocar para fora, desabafar, se sentir compreendida por pessoas que estavam passando por algo semelhante ao que ela tem vivido mediante a perda.

O jantar esfriou e fomos comer lá pelas 21h, quando eles foram para casa.

Foi uma conversa muito leve, fluida e boa, onde ambas as partes se sentem compreendidas e acolhidas.

De quebra ainda tive diversas lembranças de infância, de quando eu ia lá na casa dela, assistir VHS e DVDs, quando aqui em casa ainda não tínhamos condições de ter esse tipo de aparelho. Foi como fazer uma viagem no tempo. Uma boa viagem a um lugar interior que eu não acessava há muitos anos.

É incrível perceber como as pessoas nem sempre sabem sobre as boas marcas que deixam em nossa vida, assim como a gente não sabe de todas as marcas que deixamos na vida das pessoas, sejam boas ou ruins. Precisamos fazer o bem nas pequenas ações, e eu fiquei feliz por receber uma vizinha aqui, hoje, para conversar. Deu uma movimentada na noite, afinal. 

Em seguida, senti um ânimo descomunal. Vim para o quarto, liguei o notebook e fui fechar as tais artes que já comentei aqui por diversas vezes, mas que não estavam caminhando muito (os pequenos passos que mencionei em textos anteriores). Em menos de DUAS HORAS, eu consegui fechar tudo e fazer o upload na nuvem para enviar ao cliente. Havia coisas que minha mente não estava processando ao longo de todos esses dias e que, num estalar de dedos, eu consegui pensar e falar: "Parecia que isso daria um trabalhão!" Como a mente da gente é... A minha não estava bem, a ponto de eu não conseguir raciocinar logicamente. É muito importante que nossa mente esteja bem, equilibrada, para que as coisas fluam.

Enquanto o arquivo carregava, decidi abrir essa aba e escrever sobre o meu dia. Pensei que não conseguiria escrever hoje, mas, graças a Deus, estou cumprindo com minha meta de hoje.

Quer dizer que, quando eu pensei que não renderia em nada, por ter dado prioridade a outros seres humanos que precisavam da minha atenção sincera, na verdade, eu estava fazendo exatamente o que deveria fazer. Era lá, naquelas conversas, que eu deveria estar, sentindo as horas passando, sentindo as "obrigações" paradas, mas vivendo a essência do que é ser humano. Afinal, sempre acreditei que a prioridade da vida humana não pode, nem deve ser o trabalho, mas as pessoas. Meu pai sempre discordou de mim, mas, não acredito que seja coincidência o fato de que justo hoje os dois relógios de casa pararam. Eu não deveria me prender no horário, deveria viver, e isso me fez fluir no trabalho.

Agora, eu vou me organizar para os próximos pontos que precisam de atenção amanhã. Ainda não estou com sono, mas já pensando em me preparar para dormir. Quem sabe, amanhã, finalmente eu consiga acordar mais cedo.

Por hoje é só isso.

Douglas ;)

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